Asterius arrombou o portão frágil, levando alguns soldados telmarinos à sua frente. Olhei para Ben, esperando que tudo corresse bem, e desembainhei a minha espada, inclinada no dorso do centauro.
Quando passámos o portão e quando nos viram, Peter, Susan e Caspian desembainharam as suas espadas e prepararem-se para a luta. Muitos telmarinos, apercebendo-se da invasão, desceram as escadas do castelo rapidamente. Não havia tempo para medo ou hesitações. O meu centauro, segurando duas espadas na mão, deferia golpes nos homens mais baixos, enquanto eu lutava com os telmarinos que iam em cavalos. Deferi golpes em vários telmarinos, que caiam dos seus cavalos a baixo. A certa altura, um telmarino lançou uma seta que acertou na pata do centauro que me segurava. Este segurou-se, mas depois cravaram-se-lhe mais duas e não aguentou, abatendo-se no chão. Caí com estrondo em cima dele.
-Segue sem mim - disse ele - por Nárnia e por Aslan...
Olhei uma última vez para o centauro caído, odiando não poder fazer nada para o ajudar e ter de o abandonar. No entanto, não tive muito mais tempo para pensar nisso pois comecei a lutar corpo a corpo com um soldado muito maior que eu. Ofereci resistência e fiz-lhe um corte no braço esquerdo, mas ele atingiu-me no pescoço, por pouco não mo cortando. A sangrar e com um único golpe golpeei-lhe a cabeça. Nesse momento, outro soldado telmarino começou a fechar os portões, mas Asterius correu para lá, suportando o peso do portão com o seu peso. Não ia conseguir aguentar muito mais, e ouviram-se as vozes de Peter e de Caspian a mandarem-nos retirar.
Não sabia onde estava Ben ou Asaf e não conseguia ver os Pevensie ou Caspian. Estava longe do portão de saída, mas furei caminho, decapitando ou golpeando um soldado aqui ou acolá. De repente, senti uma dor dilacerante na perna direita e vi um telmarino a golpear-me com a espada. Afastei-o com uma cotovelada e depois atingi-o na cintura, mas não consegui andar. Tentei gritar e pedir ajuda, mas não encontrei a voz. À minha volta viam-se corpos caídos e gente a correr em direção aos portões. Era o fim para mim. Depois ouvi a voz. A voz que discutira comigo, mas que eu tinha de admitir que era a voz da razão.
-Melanie, agarra-me! - gritou Edmund, montado num grifo, que naquele momento rasava o chão. Edmund estendeu o braço e eu agarrei-o. Ele puxou-me com força para cima dele e o grifo não vacilou, levantando voo - agarra-te bem à minha cintura!
Assim o fiz, cerrando os dentes pois doía-me incrivelmente o corte da perna e o do pescoço, mas doía-me ainda mais o meu orgulho, pois no final fora Edmund que me salvara. Olhei para baixo, vendo Asterius a ser atingido com setas e a vacilar. Sabia que ele estava a ceder e que muitos narnianos ficariam para trás. Esperava que Ben já estivesse a salvo, pois não suportaria ter sobrevivido e ele não e também estava preocupada com Asaf, pois embora não o conhecesse há muito, tinha-me tornado amiga dele.
Vi Asterius a ceder e a cair no chão, o portão a cair sobre ele. Muitos narnianos ficaram para trás, mas agora eram apenas uma mancha indistinta à medida que o grifo subia e íamos ficando cada vez mais longe do castelo.
-Estás magoada? – perguntou-me Edmund. Mordi o lábio inferior, não querendo admitir que ele tivera razão. Como eu não respondi, ele indagou: - deixa o orgulho de lado, Melanie, por favor.
-Só… no pescoço e na perna direita. Foi por causa do golpe na perna que não consegui correr em direção aos portões… mas Edmund… porque… porque desceste e me vieste ajudar? Logo a mim? – perguntei, num sussurro.
-A verdade é que… eu menti-te, hoje, quando te disse que só me importava contigo porque eras uma rapariga que se podia magoar seriamente. Não é só por causa disso. Na verdade, é muito mais do que isso.
Susti a respiração, apertando firmemente a cintura de Edmund e à espera
que ele continuasse, mas ele não o fez. Não falámos mais, e estávamos a
sobrevoar a floresta quando ele proferiu:
-É melhor descansarmos um bocado. O grifo também precisa de
recuperar forças. Paramos naquela clareira e depois prosseguimos caminho, está
bem?
-Sim – afirmei, cansada. O grifo desceu até pousar na clareira,
rodeada por árvores grandes. Ouviam-se mochos e o barulho do vento nas árvores,
e estava contente por não estar sozinha. Edmund e eu sentámo-nos no grifo.
Depois o primeiro desceu do animal e ajudou-me, contra minha vontade, a sair
dele. O grifo deitou-se no chão e eu e Edmund encostámo-nos a ele,
recebendo o calor do primeiro.
-Golpearam-te no pescoço e na perna direita, certo? – interpelou Edmund.
Fiz que sim com a cabeça – não tenho nenhum frasco mágico como o da Lucy que
possa curar feridas, mas vou tentar fazer-te uma ligadura para o corte da
perna.
-Não é preciso – afirmei, mas ele ou não me ouviu ou fez que não ouviu.
Arrancou um pedaço da sua camisa e enrolou-o à volta da minha ferida. Depois
pareceu lembrar-se de algo, retirando uma espada do coldre da sua cintura. Era
a espada mais bonita que já vira, parecia fogo, em tons castanhos, laranjas
e dourados. O punho era dourado e parecia de ouro.
-Roubei esta espada a um telmarino e achei que ias gostar – Edmund estendeu-ma.
-É para mim? – questionei, arregalando os olhos.
-Bom, sim… se…
-Obrigada – interrompi eu e ele sorriu levemente. Agarrei no punho da
espada, que se adequava perfeitamente a mim. Não era pesada e era fácil de
manejar e sentia-me embaraçada por Edmund se ter lembrado de mim, principalmente depois da nossa discussão. Ele ajudou-me
a colocar a espada à cintura e depois recostámo-nos um no outro e no grifo.
Sem saber como, tinha a cabeça pousada no peito dele, com a parte do pescoço
que não estava ferida, e depois adormeci.
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