domingo, 16 de março de 2014

Beruna

Eu, Ben, os quatro Pevensie e Trumpkin caminhámos pela floresta juntamente com Caspian, o texugo que falara, de nome Trufflehunter, o rato que Lucy chamara de fofo, Reepicheep, o anão de barba negra, Nikabrik e os restantes narnianos. 
-Então são de uma terra chamada Inglaterra? - perguntou Caspian a mim e a Ben. O meu irmão começara a falar com ele e eu juntei-me. Caspian parecia simpático, à exceção das suas rivalidades com Peter.
-É mais ou menos isso - concordou Ben.
-E sabem esgrimir? - questionou Caspian, olhando mais para mim do que para Ben.
-Ela lutou com o Edmund e acabaram a luta com as espadas encostadas ao pescoço um do outro. E o Peter diz que o Edmund é o melhor a esgrimir em Nárnia - disse Ben, entusiasmado. Corei com os elogios do meu irmão.
-O Ben só está a dizer isso porque não suporta o Edmund - declarei eu - estavam sempre a lutar na escola. 
-Luto ainda mais se ele se começar a fazer a ti - afirmou Ben. Arregalei os olhos, certa de que estava vermelhíssima. Caspian sorriu e olhou em volta. 
-E sobre a irmã dele? A mais velha... Susan? - interrogou ele. Foi a minha vez de sorrir. 
-Ela é simpática. Gentil, como diz o seu título. Aposto que vais gostar dela - aleguei. 
-Então e tu, Ben? Não há ninguém que te tenha cativado? - provocou Caspian.
-Havia... mas a Melanie interrompeu-me quando eu estava a falar com ela - respondeu ele.
-Aquela rapariga do meu colégio? Com quem estavas a falar quando te chamei para irmos apanhar o comboio? - inquiri.
-Essa mesmo - confirmou Ben. 
-Vocês têm sorte - comentou Caspian - porque vão poder ficar com quem gostam quando se forem embora de Nárnia, visto que as pessoas de quem gostam são do vosso mundo. Eu, pelo contrário... ficarei sozinho.
Olhou para Susan, que ia mais à frente com os irmãos. Achei melhor não dizer que não gostava de ninguém por não ser um bom momento para falar disso.
-Não penses nisso - proferi eu, ao fim de algum tempo. Depois, caminhámos em silêncio até o bosque desembocar num vasto prado, com uma colina com ruínas, mais à frente.


-Beruna - explicou Caspian - uma região de Nárnia. 
Continuámos a caminhar em direção à colina. Uma receção calorosa de narnianos, maioritariamente centauros, esperavam-nos. Ao verem os reis e rainhas de Nárnia, desembainharam as espadas em sinal de saudação. 






Entrámos para dentro da caverna, que estava toda iluminada por archotes. Lá dentro, dezenas de narnianos, como minotauros, faunos, centauros e anões, trabalhavam para se prepararem para a guerra contra Telmar, em que Caspian prometera ajudar os narnianos combatendo contra os telmarinos. Havia animais a forjar armas, a recolher alimentos, a treinar...


Eu e Ben separámo-nos de Caspian, que foi ter com os Pevensie. Vimos com admiração as armas construídas pelos narnianos. Eu fiquei especialmente admirada ao encontrar um rapaz humano a forjar espadas. Sabia que havia humanos em Nárnia, maioritariamente dos reinos de Archenland, Calormen e Telmar, mas nunca tinha visto nenhum. O rapaz, moreno, vestia trajes parecidos com os de Caspian, Peter e Edmund, mas mais modestos. 
-Chamo-me Asaf Jovia - apresentou-se ele quando me viu a olhá-lo muito atentamente - sou oriundo do reino de Archenland, mas os meus pais quiseram vir para Nárnia. Forjo espadas.
-Eu sou a Melanie Stanler - cumprimentei - sou da Terra. Como é que aprendeste a forjar espadas?
Asaf encolheu os ombros.
-Fui aprendendo, aos poucos. 
-Pareces muito talentoso - afirmei. Ele sorriu.
-Temos de forjar o máximo de espadas que pudermos para a batalha - declarou ele.
-Espero poder lutar - aleguei. Até essa altura, ainda não tinha pensado muito no facto de poder participar numa batalha a sério, em que me poderia magoar a valer, ou pior. 
-Duvido - disse ele - és uma rapariga.
Cruzei os braços sob o peito.
-Isso não quer dizer que...
-Não estou a ser machista - cortou ele - é só que não me parece que o rei Peter ou o rei Edmund te deixem ir.
-Porquê? - perguntei.
-Provavelmente vão querer que fiques com a rainha Susan e a rainha Lucy - respondeu ele. Nesse momento, vários narnianos dirigiram-se à parte mais interna da caverna. Ben chamou-me, por isso despedi-me de Asaf e fui com ele. Caspian e os quatro irmãos Pevensie estavam lá, a discutir táticas de batalha. Havia uma grande Mesa de Pedra partida e rachada no meio, no centro da sala. 



Vi uma grande imagem de um leão, provavelmente Aslan. Agora era Lucy que estava a falar.
-... bom, vocês estão a agir como se só houvessem duas opções. Morrer lá, ou morrer cá - disse ela. Troquei um olhar confuso com Ben. De que estava ela a falar?
-Não tenho a certeza de que tenhas estado mesmo a ouvir, Lu - disse Peter.
-Não, tu é que não estás a ouvir - contrapôs Lucy - ou já te esqueceste quem é que derrotou verdadeiramente a Feiticeira Branca?
Os olhos dela vacilaram para o grande retrato do leão.
-Acho que já esperámos tempo demais por Aslan - proferiu Peter.
-Quem vota a favor de invadirmos o castelo de Telmar hoje à noite? - questionou Edmund e várias mãos levantaram o braço - e quem vota contra?
Foram poucas as pessoas que votaram contra, um deles foi Caspian. No fim, a maioria ganhou e eu percebi. Eles tinham estado a planear um ataque ao castelo de Telmar. A meu ver, isso era quase suicídio, mas não queria dar parte fraca. Lentamente, os vários narnianos evacuaram a sala, indo preparar-se para o ataque, restando eu, Ben, Caspian e os Pevensie. Lembrando-me do que Asaf dissera, perguntei:
-Então e eu e Ben?
-Eu vou lutar, por isso se quiseres, também lutas - respondeu Susan.
-Então assim o farei... - acedi. 
-Não, é demasiado perigoso - interrompeu uma voz. Olhei para Edmund.
-Tu próprio disseste que ela lutava bem! - argumentou Susan. Uau, a rapariga que se opusera a eu lutar com Edmund agora discutia com ele porque Edmund não queria que eu fosse com eles. Acharia ele que eu estragaria tudo, que lhes era um fardo? Ou seria preocupação?
-Daí a deixá-la ir... ela pode ter experiência, mas nunca lutou a sério - replicou Edmund.
-Estás a dizer que não consigo? - exaltei-me.
-Não! - exclamou ele - eu só não quero que te magoes! Atacar um castelo é diferente do que esgrimar! Podes magoar-te a sério e...
-E desde quando é que te preocupas com a minha irmã? - inquiriu Ben. Edmund não disse nada, pelo que Ben continuou: - por muito que me aflija que ela vá lutar, a decisão é dela. Não tenho o direito de a impedir, muito menos tu. 
-Como queiram, mas depois não digam que não vos avisei - disse Edmund, finalizando a conversa e saindo da sala.
-Não sei o que lhe deu - cortou Susan o silêncio ao fim de algum tempo - ele não é assim geralmente...
Lucy sorriu.
-Bom, eu acho que sei. Vou procurá-lo - e com isto, saiu também ela da sala. 
-Então, vais ao ataque? - perguntou-me Peter.
-Vou - respondi. Peter olhou para Ben.
-E tu? 
-Também - acedeu ele.
-Muito bem. Então vamos preparar-nos. 

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