-Podemos propor a Miraz um duelo até à morte - disse Caspian - apesar de ele poder recusar, pois tem as melhores armas e o maior exército, vai ser difícil dizer não à frente de todos, pois não vai querer mostrar parte fraca e se recusar, os outros interpretarão isso como tendo medo.
Peter meditou no seu plano durante algum tempo.
-Tens razão. É uma boa ideia. Desafiá-lo-ei para lutar comigo num duelo até à morte e a recompensa será total rendição - afirmou ele.
-Peter... - interferiu Susan, preocupada.
-Não te preocupes, Susan. Ele é mais velho, vai cansar-se mais depressa - declarou Peter.
-Mas tem mais experiência - redarguiu ela.
-Eu consigo fazer isto - disse Peter com determinação e nem Susan ousou ripostar quando viu o seu olhar feroz e decidido - Edmund, tu, um dos gigantes e Glenstrom levarão um comunicado a Miraz a propor o duelo.
Isso deixou-me algo inquieta. Miraz era homem para matar Edmund assim que ele lá chegasse, mas vendo a cara de orgulho de Edmund por o irmão mais velho o ter destacado para aquela missão, não consegui dizer nada. Assim, quando Peter acabou de escrever o comunicado e o entregou a Edmund, que saiu da sala e se dirigiu lá para fora, não esperei pelos outros nem pensei em Ben. Corri atrás de Edmund, agarrando-o à entrada da caverna. Os outros vieram atrás de mim, e Ben parecia ir ripostar, mas ouvi Caspian a mandá-lo calar.
-Edmund... - murmurei eu, sem conseguir decidir o que havia de dizer. Ele sorriu-me apaziguadoramente, mas ao mesmo tempo com um sorriso travesso.
-Estás com medo que o Miraz me magoe? Não tens confiança suficiente no melhor esgrimista que conheces?
-Então devias ser tu a lutar com Miraz e não Peter - repliquei, sorrindo, mas depois fiz uma cara séria - mas a sério, Edmund, sê cauteloso. Não gostaria de não ter ninguém com quem lutar tão avidamente.
-Melanie, em tempos fui Rei. Sei ser cauteloso. Não te preocupes, tudo vai correr bem - ele sorriu-me e depois preparou-se para ir ter com o gigante e com Glenstorm, que o esperavam mais à frente, mas antes disso, deti-o e abracei-o. Não suportava vê-lo ir-se embora, sem saber o que lhe podia acontecer, embora todos me garantissem que Miraz não lhe faria nada. Na verdade, apetecia-me fazer mais do que abraçá-lo, mas não tinha coragem, embora os meus olhos tivessem vacilado entre os seus olhos e os seus lábios. Ele abraçou-me de volta, um pouco admirado.
-Volta são e salvo... - murmurei, com a cabeça encostada no seu peito, e depois baixei tanto a voz que fiquei com a impressão de que ele não ouviu - para mim.
Mas depois ele disse:
-Assim o farei - ele sorriu-me mais uma vez, o que me fez corar imenso e depois seguiu o gigante e Glenstorm até à linha do inimigo. Virei-me, corando ainda mais quando vi toda a gente a olhar-me. Peter, Susan, Lucy e Caspian sorriam, mas Ben tinha uma expressão furiosa.
-Agora não me digas que não se passa nada entre ti e ele! - gritou ele tão alto que fiquei com a sensação que Edmund tinha ouvido, apesar de já estar tão longe.
De súbito, fiquei farta da proteção e controlo exagerados de Ben. Se eu queria estar com Edmund, não seria Ben que me impediria!
-E se passar, qual é o problema? – berrei em resposta – não tens nada a
ver com isso!
Ainda o ouvi gritar em resposta “Tenho si, sou teu irmão”, mas
afastei-me em direção às ruínas, para ver melhor se Edmund e os outros já
tinham chegado até ao inimigo.
-Não ligues ao Ben – disse Caspian, aproximando-se, que já voltara a dar-se com Peter.
-Mas ele consegue ser tão irritante às vezes.
-É normal que ele se preocupe contigo. Se eu tivesse uma irmã, também
não gostaria de a ver apaixonar-se pelo meu inimigo de escola – declarou Caspian.
-Mas eles não têm razões para serem “inimigos”! E eu não me estou a
apaixonar pelo Edmund! – contestei.
-Tens a certeza disso? – sorriu Caspian.
-Eu não posso… - murmurei.
-E porque não? – indagou Caspian.
-Porque… - mordi o lábio inferior – porque ele é um rei, e eu sou
apenas uma rapariga normal. Porque ele não vai querer alguém desinteressante
como eu. Por causa do Ben, também.
-Não devias pensar assim – disse Caspian – eu, como rapaz, acho-te
muito interessante. És lutadora e determinada, e tens uma personalidade forte.
Na minha opinião, acho que o Edmund também gosta de ti. E já te disse para não
ligares ao Ben. Mais cedo ou mais tarde ele vai ter de perceber que és tu quem
decide o que queres, e se escolheres o Edmund, o Ben não te pode impedir.
-Porque é insistes tanto em mim e no Edmund? - inquiri.
-Porque vocês ficam bem juntos. E fazem bem um ao outro. Olha, vêm ali - Caspian apontou em frente, onde constatei, aliviada, que, de facto, Edmund, Glenstorm e o gigante regressavam, com um ar satisfeito, pelo que Miraz deve ter aceite a proposta. Tinha ficado com tanto medo de Edmund ser morto que jurei a mim mesma que da próxima vez que houvesse um conflito em que não teria a certeza se ele voltaria, faria aquilo que já quisera fazer. E apercebi-me que não o quisera fazer apenas quando o abraçara há pouco, mas pelo menos desde o momento em que ele me tirou do castelo de Telmar e talvez até antes disso, quando o vira em tronco nu no dia em que chegáramos a Nárnia.
-Aceitaram - afirmou ele quando chegou ao pé de nós.
-Miraz é traiçoeiro, é provável que tente fazer batota - declarou Caspian, mas eu não estava realmente a ouvi-lo. Os olhos escuros de Edmund fitavam os meus, o que me fazia sentir arrepios quentes - vou avisar os outros.
Caspian deu meia volta e foi-se embora.
-Lamento que tu e o Ben se tenham chateado por minha causa - afirmou Edmund, que provavelmente, como eu previra, ouvira a discussão barulhenta que eu e o meu irmão havíamos tido.
-Esquece isso. Agora temos de nos concentrar nos telmarinos.
-Mas, Melanie, se o duelo acabar mal e houver uma guerra, certifica-te
que fazes as pazes com o Ben antes. Não vais querer ficar chateada com ele se
lhe acontecer alguma coisa – avisou-me Edmund.
-Ok, Edmund, obrigada – agradeci, sabendo que o que ele dizia era
verdade.
-Espero que o Peter ganhe. Não suportaria ver o Peter…
-Edmund, sei que não deixarias as coisas chegar a esse ponto. Mesmo que
isso significasse um desrespeito pelas regras e acabasse em guerra, não
deixarias o teu irmão morrer enquanto assistias – aleguei.
-Parece que me conheces melhor do que eu próprio – sorriu Edmund.
-É, há pessoas que têm esse efeito em nós – sorri eu em resposta,
corando quando ele me olhou fixamente, com o seu olhar quente e enigmático que me fazia tremer da cabeça aos pés. Deus, o que é que se estava a passar comigo? Porque é que aquele rapaz
me influenciava assim tanto, porque é que mexia tanto comigo? Caspian não
estava certo ao afirmar que eu estava apaixonada por Edmund, pois não? Ou
estava?
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