Nessa noite, organizou-se um baile no castelo de Cair Paravel, que, pela ação mágica de Aslan, recuperara a sua magnificência. Lucy dera-me um pouco do seu sumo de flores de fogo, curando a minha ferida no ombro esquerdo.
Cair Paravel |
Encontrava-me num quarto de hóspedes à espera de Susan e Lucy, que me haviam dito que iam encontrar o vestido perfeito para mim. Por um lado, eu não era muito adepta de vestidos, mas por outro sabia que gostaria de experimentar um vestido de Nárnia. Finalmente Susan e Lucy regressaram com um vestido lindo e elegante.
-É para mim? - perguntei.
-Sim - assentiram elas.
-Adoro - respondi.
Nas horas seguintes eu, Susan e Lucy ajudámo-nos umas às outras com penteados, maquilhagem e roupas, coisas que normalmente eu detestava. Depressa chegou a hora do baile.
-O Edmund vai adorar ver-te assim - afirmou Lucy.
Lucy e Susan tinham penteado o meu cabelo louro, eu tinha vestido o meu vestido e estávamos prontas para o baile.
Nervosas, descemos as escadas para o salão de festas, onde já havia vários narnianos. O meu olhar passou por Edmund. Quando me viu, a sua cara encheu-se de felicidade. Cheguei até ele.
-Estás linda - disse-me ele.
-Obrigada - respondi. Olhei para Ben, que se encontrava ali perto com uma rapariga telmarina que viera para Nárnia quando era nova.
-Divirtam-se - disse ele ao passar por nós.
-Vocês também - afirmei.
-Queres dançar? - questionou Edmund. Fiz que sim com a cabeça e Edmund colocou uma mão na minha cintura. Lentamente começámos a rodopiar, juntos, felizes - aquele beijo mais cedo...
Impulsivamente coloquei os meus lábios no dele.
-Foi tão bom como este? - gracejei. Edmund sorriu e olhou-me nos olhos. Susan e Caspian dançavam apaixonadamente. Lucy dançava com Trumpkin animadamente e Ben e a rapariga telmarina riam-se juntos.
-Desculpa nunca te ter dito, Melanie, e ter provocado todas aquelas confusões com o teu irmão. Mas não conseguia parar de olhar para ti. Tal como agora. És diferente de todas as outras raparigas e... e eu amo-te.
Os seus olhos castanhos fitaram os meus. Naquele momento não tive dúvidas.
-Eu também te amo - respondi. Ele aproximou-se e beijou-me e o resto do baile passou a voar.
*
No dia seguinte, na praça, os telmarinos reuniram-se aos narnianos para ouvir Caspian.
Tive de vestir um novo vestido, também escolhido por Susan e Lucy, desta vez azul.
Caspian, agora rei de Nárnia, começou a falar.
-Nárnia pertence aos narnianos tal como pertence aos homens. Qualquer telmarino que quiser viver em paz em Nárnia é bem-vindo. E para aqueles que quiserem, Aslan far-vos-à regressar à terra dos vossos antepassados, a mesma terra de onde vieram os nossos reis e rainhas.
-É para aí que vos posso fazer regressar. É um bom lugar para todos aqueles que quiserem começar de novo - informou Aslan.
-Eu vou. Aceito a proposta - declarou Glozelle, um dos homens mais chegados a Miraz.
-Nós também vamos - disse a mulher de Miraz, carregando o filho de Miraz ao colo.
-Porque foram os primeiros a falar, o vosso futuro nesse mundo será bom - alegou Aslan, bafejando sobre eles. Depois o tronco da árvore separou-se em dois, criando um portal para o nosso mundo.
Glozelle, a mulher de Miraz e o bebé passaram pelo portal, desaparecendo.
-Como é que sabemos que ele não nos está a levar para a morte? - gritou um telmarino da multidão.
-Majestade, se o nosso exemplo servir de alguma coisa, levarei onze ratos pelo portal sem pensar duas vezes - disse Reepicheep.
Peter deu um passo em frente.
-Nós vamos.
-Vamos? - perguntou Edmund.
-Vamos. O nosso tempo aqui acabou - declarou Peter - afinal, já não somos mais precisos aqui.
Peter olhou para Caspian e entregou-lhe a sua espada.
-Cuidarei dela até regressarem - afirmou Caspian.
-É esse o problema... nós não vamos voltar - disse Susan, olhando tristemente para Caspian. Senti uma pontada de dor no coração. Os tempos que passaram em Nárnia tinham sido os melhores da minha vida. E agora não íamos voltar?
-Não vamos? - perguntou Lucy, triste.
-Vocês os dois vão - disse Peter olhando para Lucy e Edmund - e talvez a Melanie e o Ben também. Pelo menos acho que é isso que Aslan quer dizer.
Lucy olhou para Aslan.
-Mas porquê? Eles fizeram algo de errado?
-Muito pelo contrário, querida. Mas todas as coisas têm o seu tempo. O teu irmão e irmã aprenderam o que puderam deste mundo. Agora chegou a altura de viverem no seu próprio - respondeu Aslan.
-Está tudo bem, Lu - confortou-a Peter - não é como eu esperava que fosse, mas não faz mal. Um dia vais compreender. Vamos.
Lentamente, despedimo-nos de Trumpkin, Trufflehunter, Reepicheep, Glenstorm, etc.
Eu e Ben fomos ter com Caspian.
-Talvez nos voltemos a ver - disse eu.
-Espero que sim - respondeu Caspian - vocês são bons amigos. Vou ter saudades vossas.
-Nós também - afirmou Ben. Caspian abraçou-me e apertou a mão a Ben. Quando acabámos de nos despedir Susan foi ter com Caspian.
-Fico contente por ter voltado - disse ela.
-Gostaria de ter tido mais tempo contigo - Caspian olhou-a nos olhos.
-Nunca teria resultado entre nós, de qualquer maneira - alegou ela tristemente.
-Porque não? - interrogou Caspian, confuso.
-Sou 1300 anos mais velha que tu - sorriu Susan, indo-se embora. Mas depois reconsiderou e aproximou-se de Caspian, beijando-o finalmente.
Depois abraçaram-se e Lucy disse:
-Tenho a certeza de que quando for mais velha vou entender.
-Eu sou mais velho e não tenho a certeza se quero entender - riu Edmund.
-Tu também não podes falar muito - sorriu Lucy, olhando para ele e depois para mim. Edmund corou levemente. Dando um último olhar à multidão, os Pevensie, eu e Ben dirigimo-nos à abertura das árvores. Assim que a atravessámos, o barulho de comboios encheu-me os ouvidos. Estávamos de volta à estação de comboios de onde partíramos, de volta ao nosso mundo. Entrámos no comboio, um pouco melancólicos.
-Acham que há alguma maneira de voltarmos? - questionou Lucy. Edmund procurou algo na sua mala.
-Deixei a minha lanterna fixe em Nárnia! - exclamou ele e todos rimos.
FIM
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