quinta-feira, 5 de junho de 2014

Adeus

Nessa noite, organizou-se um baile no castelo de Cair Paravel, que, pela ação mágica de Aslan, recuperara a sua magnificência. Lucy dera-me um pouco do seu sumo de flores de fogo, curando a minha ferida no ombro esquerdo. 

Cair Paravel

Encontrava-me num quarto de hóspedes à espera de Susan e Lucy, que me haviam dito que iam encontrar o vestido perfeito para mim. Por um lado, eu não era muito adepta de vestidos, mas por outro sabia que gostaria de experimentar um vestido de Nárnia. Finalmente Susan e Lucy regressaram com um vestido lindo e elegante.
-É para mim? - perguntei.
-Sim - assentiram elas.
-Adoro - respondi.
Nas horas seguintes eu, Susan e Lucy ajudámo-nos umas às outras com penteados, maquilhagem e roupas, coisas que normalmente eu detestava. Depressa chegou a hora do baile. 
-O Edmund vai adorar ver-te assim - afirmou Lucy.
Lucy e Susan tinham penteado o meu cabelo louro, eu tinha vestido o meu vestido e estávamos prontas para o baile.
 
 

Nervosas, descemos as escadas para o salão de festas, onde já havia vários narnianos. O meu olhar passou por Edmund. Quando me viu, a sua cara encheu-se de felicidade. Cheguei até ele.
-Estás linda - disse-me ele.
-Obrigada - respondi. Olhei para Ben, que se encontrava ali perto com uma rapariga telmarina que viera para Nárnia quando era nova.
-Divirtam-se - disse ele ao passar por nós.
-Vocês também - afirmei.
-Queres dançar? - questionou Edmund. Fiz que sim com a cabeça e Edmund colocou uma mão na minha cintura. Lentamente começámos a rodopiar, juntos, felizes - aquele beijo mais cedo... 
Impulsivamente coloquei os meus lábios no dele.
-Foi tão bom como este? - gracejei. Edmund sorriu e olhou-me nos olhos. Susan e Caspian dançavam apaixonadamente. Lucy dançava com Trumpkin animadamente e Ben e a rapariga telmarina riam-se juntos.
-Desculpa nunca te ter dito, Melanie, e ter provocado todas aquelas confusões com o teu irmão. Mas não conseguia parar de olhar para ti. Tal como agora. És diferente de todas as outras raparigas e... e eu amo-te.
Os seus olhos castanhos fitaram os meus. Naquele momento não tive dúvidas.
-Eu também te amo - respondi. Ele aproximou-se e beijou-me e o resto do baile passou a voar.

*

No dia seguinte, na praça, os telmarinos reuniram-se aos narnianos para ouvir Caspian. 





Tive de vestir um novo vestido, também escolhido por Susan e Lucy, desta vez azul.


Caspian, agora rei de Nárnia, começou a falar. 
-Nárnia pertence aos narnianos tal como pertence aos homens. Qualquer telmarino que quiser viver em  paz em Nárnia é bem-vindo. E para aqueles que quiserem, Aslan far-vos-à regressar à terra dos vossos antepassados, a mesma terra de onde vieram os nossos reis e rainhas.
-É para aí que vos posso fazer regressar. É um bom lugar para todos aqueles que quiserem começar de novo - informou Aslan. 
-Eu vou. Aceito a proposta - declarou Glozelle, um dos homens mais chegados a Miraz. 
-Nós também vamos - disse a mulher de Miraz, carregando o filho de Miraz ao colo. 
-Porque foram os primeiros a falar, o vosso futuro nesse mundo será bom - alegou Aslan, bafejando sobre eles. Depois o tronco da árvore separou-se em dois, criando um portal para o nosso mundo.


Glozelle, a mulher de Miraz e o bebé passaram pelo portal, desaparecendo.
-Como é que sabemos que ele não nos está a levar para a morte? - gritou um telmarino da multidão.
-Majestade, se o nosso exemplo servir de alguma coisa, levarei onze ratos pelo portal sem pensar duas vezes - disse Reepicheep.
Peter deu um passo em frente.
-Nós vamos.
-Vamos? - perguntou Edmund.
-Vamos. O nosso tempo aqui acabou - declarou Peter - afinal, já não somos mais precisos aqui.
Peter olhou para Caspian e entregou-lhe a sua espada.
-Cuidarei dela até regressarem - afirmou Caspian.
-É esse o problema... nós não vamos voltar - disse Susan, olhando tristemente para Caspian. Senti uma pontada de dor no coração. Os tempos que passaram em Nárnia tinham sido os melhores da minha vida. E agora não íamos voltar?
-Não vamos? - perguntou Lucy, triste.
-Vocês os dois vão - disse Peter olhando para Lucy e Edmund - e talvez a Melanie e o Ben também. Pelo menos acho que é isso que Aslan quer dizer.
Lucy olhou para Aslan.
-Mas porquê? Eles fizeram algo de errado?
-Muito pelo contrário, querida. Mas todas as coisas têm o seu tempo. O teu irmão e irmã aprenderam o que puderam deste mundo. Agora chegou a altura de viverem no seu próprio - respondeu Aslan.
-Está tudo bem, Lu - confortou-a Peter - não é como eu esperava que fosse, mas não faz mal. Um dia vais compreender. Vamos.
Lentamente, despedimo-nos de Trumpkin, Trufflehunter, Reepicheep, Glenstorm, etc. 
Eu e Ben fomos ter com Caspian.
-Talvez nos voltemos a ver - disse eu.
-Espero que sim - respondeu Caspian - vocês são bons amigos. Vou ter saudades vossas.
-Nós também - afirmou Ben. Caspian abraçou-me e apertou a mão a Ben. Quando acabámos de nos despedir Susan foi ter com Caspian.
-Fico contente por ter voltado - disse ela.
-Gostaria de ter tido mais tempo contigo - Caspian olhou-a nos olhos.
-Nunca teria resultado entre nós, de qualquer maneira - alegou ela tristemente.
-Porque não? - interrogou Caspian, confuso.
-Sou 1300 anos mais velha que tu - sorriu Susan, indo-se embora. Mas depois reconsiderou e aproximou-se de Caspian, beijando-o finalmente. 


Depois abraçaram-se e Lucy disse:
-Tenho a certeza de que quando for mais velha vou entender.
-Eu sou mais velho e não tenho a certeza se quero entender - riu Edmund.
-Tu também não podes falar muito - sorriu Lucy, olhando para ele e depois para mim. Edmund corou levemente. Dando um último olhar à multidão, os Pevensie, eu e Ben dirigimo-nos à abertura das árvores. Assim que a atravessámos, o barulho de comboios encheu-me os ouvidos. Estávamos de volta à estação de comboios de onde partíramos, de volta ao nosso mundo. Entrámos no comboio, um pouco melancólicos.
-Acham que há alguma maneira de voltarmos? - questionou Lucy. Edmund procurou algo na sua mala.
-Deixei a minha lanterna fixe em Nárnia! - exclamou ele e todos rimos.

FIM

Aslan

Vi Caspian subir por uma rampa para o ar livre, e agora os telmarinos encontravam-se rodeados pelos narnianos tanto pela frente como por trás. 


Peguei na minha espada, golpeando telmarinos aqui e ali. A certa altura consegui arranjar outra espada, começando a lutar com duas. De repente, senti um golpe a rasgar-me a pele do ombro esquerdo. Cerrei os dentes. Vi Ben.
-Melanie! - gritou ele.
-Estou bem! - berrei de volta. Larguei a espada que segurava com o braço esquerdo e comecei apenas a lutar com o direito. Os telmarinos eram muitos comparados com os narnianos. Nunca conseguiríamos vencer. 
Assim Peter gritou "Recuar!" e os narnianos correram de volta à caverna, mas isso enfureceu os telmarinos que começaram a lançar pedras pelas catapultas, fazendo com que a rocha se desmoronasse e tapasse a entrada para a caverna. 
-Desculpa - disse Ben quando cheguei ao pé dele.
-Eu também - respondi.
Sem outro meio de agir, Peter mandou os narnianos avançarem e a batalha recomeçou. O ombro ainda me doía, mas não podia fraquejar. Subitamente, um telmarino conseguiu derrubar Ben, que caiu em terra. Eu estava muito longe dele e observei com  horror o telmarino a preparar-se para dar o golpe final. Só que ele nunca chegou a acontecer. Edmund apareceu, bloqueando o golpe, matando o telmarino e salvando Ben. Não tive tempo para ver mais nada pois recomecei a lutar. Depois, a terra tremeu violentamente.
As raízes da terra irromperam à superfície, numa manifestação terrível da natureza, destruindo telmarinos no seu caminho. Lucy. Conseguira chegar até Aslan. As raízes destruíram as catapultas dos telmarinos e estes assustados, começaram a recuar para a floresta.
Os narnianos avançaram sobre eles, seguindo-os, encurralando-os do outro lado da floresta, à beira-rio. 


Do outro lado da ponte, surgiu Lucy. Vi Edmund suspirar de alívio e fui juntar-me a ele, a Ben e aos outros. Depois, atrás de Lucy apareceu o leão mais majestoso e incrível que eu alguma vez vira. A sua pele parecia ouro e irradiava poder e respeito, mas também amabilidade. Era Aslan, o Grande Leão.


Pensando que uma rapariga e um leão não fariam nada comparados com o exército de telmarinos, Sopespian (o telmarino que matara Miraz) começou a avançar pela ponte.


Mas Aslan rugiu. Um rugido terrível, magnífico, profundo.


A água vibrou e uma onda enorme surgiu ao longo do rio. Vendo-a, o exército de Sopespian começou a recuar, mas o Deus do Rio formou-se nas ondas, avançando sobre eles.



Alguns telmarinos tentaram atravessar a ponte, outros atiraram-se à agua e Sopespian viu-se frente a frente com o Deus do Rio. Este elevou a ponte e por fim Sopespian desapareceu na imensidão das suas águas, ambos desaparecendo.


Os restos da ponte foram levados pelo rio e os telmarinos renderam-se, entregando as suas armas ao povo de Nárnia. Os Pevensie e Caspian percorreram o rio e avançaram para Lucy e Aslan, mas eu e Ben deixámo-nos ficar na outra margem.
-Estás bem? - perguntou-me ele.
-Só um pouco atordoada - afirmei - e tu?
-Também. E um pouco arrependido. 
-Vais parar de lutar com o Edmund agora? - questionei.
-Ok, eu admito que posso ter exagerado. E ele salvou-me a minha vida, sim. Mas não podes esperar que consiga assimilar tudo num dia. O facto de que vocês gostam um do outro ainda me é difícil de aceitar. 
-Mais vais acabar por o aceitar - declarei. 
-Melanie! Ben! - chamou Peter do outro lado do rio - venham!
Eu e Ben entreolhámo-nos, assustados por irmos conhecer Aslan. Nervosos, percorremos o rio, chegando à outra margem, onde também se encontram Trumpkin e Reepicheep. Troquei um olhar rápido com Edmund e depois olhei para Aslan.


-Acredito que ainda não nos conhecemos - proferiu ele numa voz aveludada e profunda que me enchia o coração, olhando ora para mim ora para Ben - mas ouvi falar muito de vocês.
-Perdão, majestade - disse eu numa voz fraca - mas porque nos chamou a Nárnia?
Aslan fixou o olhar em mim.
-Melanie Stanler, mostraste uma grande coragem e determinação ao longo da tua jornada aqui. Não achas que já sabes a resposta para a tua questão?
Não disse nada. 
-E eu? - interrogou Ben.
-Ben Stanler, tu também demonstraste uma grande coragem e determinação. Ambos encontraram o vosso propósito ao longo desta jornada. Precisavam de vir aqui para darem um rumo às vossas vidas.
Não conseguia parar de pensar que Aslan se referia a Edmund. Pelo meu lado, era porque me tinha apaixonado por ele. Pelo lado de Ben,. era porque tinha feito as pazes com ele.
-Agora declaro-vos Melanie Stanler, cavaleira de Nárnia, e Ben Stanler, cavaleiro de Nárnia - declarou Aslan, com um sorriso bondoso no rosto.